Duas mulheres, muitos homens, um amigo

24 09 2009

Sempre viajo a la Telma e Louise, mas me mantenho viva

Aos 21 anos fui curtir meu primeiro verão solteira em Santa Catarina. O namoro terminara há pouco tempo e eu estava numa fase leve, com vontade curtir a vida, dançar sem preconceitos, experimentar coisas novas e me divertir. Minha amiga conhecida como “sereia do mar” me acompanhou na primeira de muitas viagens que viriam. Abrimos os trabalhos em Garopaba e as férias seguiram na Guarda do Embaú (ô lugar lindo), mas esta é outra história.

Duas mulheres de vinte, sozinhas, em uma praia paradisíaca é necessariamente igual a diversão, gargalhadas, paixões, bebidas e beijos na boca. É raro conquistar um amigo numa situação dessas, mas eu tive sorte em meio a loucura de uma noite quente.

Na primeira noite abrimos os trabalhos em um bar à beira-mar sentindo o cheiro da brisa e curtindo o agradável silêncio da maré. Em meros 5 minutos no local, sentam-se ao nosso lado dois argentinos. Era um blá-blá-blá-blá-blá surreal que a gente não aguentou. Queríamos fugir dali, e foi o que fizemos. Duas horas depois, já em outra praia, descobrimos que nenhuma pagou a conta. Não sentimos culpa: naquela época o peso estava igualado ao dólar e o real desvalorizado, então 1 peso argentino valia R$ 2. Nem doeu no bolso dos caras.

– E agora, como vamos pra Ferrugem?, perguntei.

– Com os nossos novos amigos que nos ofereceram carona mais cedo, respondeu minha amiga.

No carro dos tais guris mineiros, rumo à noite da Ferrugem, decidimos com um simples olhar dar um perdido neles assim que chegássemos à praia. O motivo? Ao entrar na estrada de chão batido que dá acesso ao lugar, o trio mineiro sacou dos bolsos um charuto de maconha.

Descemos do carro, inventamos uma vontade louca de ir ao banheiro, e demos a fuga. Paramos num bar hip hop da Ferrugem, abrimos os trabalhos de jogadas de cabelo, olhares e papos furados. Lá pelas tantas, toda a praia sai correndo gritando de felicidade em direção a um bar. Como todo o mundo, mas sem saber o porquê, corremos para o tal bar.

Eis o motivo da correria:

“Tô viajando na onda
Dessa menina
Que dá aula de inglês
Toma vinho português
E vive rindo
Da minha ignorância
Mas a minha tolerância
Vai fundir a sua cuca…
Vou te bater uma real
Vou dizer que sou o tal
Bater um papo no café
É papo de jacaré
Mas vê se fala por favor
A minha língua”



Foi chocante ver toda aquela gente-linda-sarada-bronzeada cantar, dançar e correr por esse clássico da música brasileira (sendo bem querida). Dançamos um pouco, para não pagar de malas, e saímos dali. Minha amiga rumou ao bar, eu fui para a fila do banheiro. Na fila:

– Gaúcha né?, me pergunta um paulista sem ter me ouvido falar.

– Sou, como tu sabes?, respondi.

– Pelo jeito de chegar, parar na fila e olhar o painel de fotos.

– Já volto, vou ao banheiro.

O paulista ficou o resto da noite conversando comigo e minha amiga. A casa em que ele estava era em Garopaba, perto da nossa. Naqueles dias, ficamos amigos. Hoje, em São Paulo, ele é uma das pessoas que melhor me acolhe. Me convida para ir a lugares legais, me apresenta pessoas divertidas e se mostra preocupado com uma moça que há dez anos ele conheceu em uma fila de banheiro. Quando tudo está perdido, surpresas maravilhosas acontecem, e duram por uma vida.


Ações

Information

Deixe um comentário